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terça-feira, 6 de julho de 2010

Canção Desalmada (Jornal Farol das Letras 2010)


Tudo em nós é desassossego e descontrariedade, o elo das mortes que nos levarão para o futuro, a força das coisas que nos habitam e nos grudam a solidão das crianças desamparadas, tímidas demais para dialogarem com seus próprios fantasmas. Vivo sem saber de mim, passarinho de canto aflito, voz que não chega onde deveria chegar. Por que somos insossos e vazios, o que nos torna perversos e à deriva, veleiros levando os náufragos de todas as eras?! O amor nos abandonou ou atiçou ainda mais nossa fragilidade, nos ilhou ou comungou de nossos fracassos e ressurreições?! Voo, destoo do mundo, sigo fundo numa busca pelo reboo dos corações abandonados. Pesa-me a vida, suas engrenagens e desencontros, seus distúrbios e acelerações. Cansa-me a luta contra a insensibilidade e a falta de raciocínio, o desnorteamento do homem em todos os sentidos. Continuo abrindo veredas dentro do caos, oferecendo flores à besta-fera, acreditando visceralmente na poesia, abrindo portas na imensidão, sondando minha alma incessantemente, fuçando as pantominas do meu ser, me recriando, me antenando nas ingresias. Sigo pelas ruas e há sempre uma face a me perturbar, a me revelar o quanto de distancia há nas criaturas. Assusta-me o desengano, a deterioração da alma, a lama na sola dos sapatos dos espantalhos. Quanto maior o mergulho mais perto de nós mesmos chegaremos, mais renasceremos e compreenderemos a ciencia dos segredos e dos degredos, a essência dos veios e dos enleios, a cadência das rugas e das fugas. No entanto, a impaciência nos domina, mina nossas esperanças, trafega, às cegas, dentro de nossas tripas e ossos. Projeto-me no tempo, arquiteto-me por dentro, inquieto-me constantemente. Há muito o que aprender, as horas avançam aceleradas, dadas a nos estragarem e nos usurparem, viagem feita de assombros e interrogações. O amanhã é esse enterro passando na tua frente, cheio de mortos e evanescências, levando ao túmulo nossa ignorância e atropelos, nosso desconhecimento das coisas, a expansão da vida dos vermes. Multiplico-me, materializo-me nas ânsias, rondo-me, busco-me sem tréguas. São muitas as recriações do coração sozinho, viver requer intuições e comoções, um abraço no silêncio das faces atormentadas, uma modelagem interior profunda. Estou no medo e na ternura do homem que não se cansa de se investigar, de palmilhar em si os veios que o levarão para a eternidade. Sigo por rumos distantes, mas vivo perto de mim. Não tenho escolha, a folha que cai aos meus pés traz o silencio e a paz das arvores do mundo, me reinterpreta, me completa, seta indicando a estrada alada que só os espíritos que possuem uma grande solidão em si conseguem percorrer. O que falta nas almas é amor, uma vontade de conviver com o infinito, um elo que as una aos seus próprios desencontros e vícios.

Um texto do Aroldo Ferreira Leão, grande poeta!
Conheça um pouco desse grande talento em www.aroldoferreiraleao.com.br
Esse texto foi retirado do Jornal Farol das letras 2010, mais uma edição especial distribuída no dia da poesia em Petrolina-PE.

Belos versos, belas inquietações, grande poema.
Espero que gostem!

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